Título: A modified CoRoT detrend algorithm and the discovery of a new planetary companion
Autores: Rodrigo C. Boufleur, Marcelo Emilio, Eduardo Janot-Pacheco, Laerte Andrade, Sylvio Ferraz-Mello, José-Dias do Nascimento Júnior, J. Ramiro de La Reza
Instituição do primeiro autor: Observatório Nacional, ON-MCT, Rio de Janeiro
Status: Aceito para publicação na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society (MNRAS), [acesso aberto]
Querid@s, Encotramos um Planeta!
Mais de 20 anos depois da descoberta do primeiro exoplaneta, o 51 peg, por um grupo de pesquisadores do Observatório de Genebra (Suíça), chegou a vez de pesquisadores brasileiros descobrirem seu próprio exoplaneta, o CoRoT ID 223977153 b. É verdade que outros pesquisadores do país já trabalham com detecção de exoplanetas há tempos, no entanto, o trabalho discutido aqui hoje é genuinamente brasileiro, ou seja, feito por sete pesquisadores brasileiros em instituições brasileiras. Em tempos difíceis de apoio a ciência e a pesquisa este trabalho apresenta também um grande marco para a pesquisa nacional.
Como já comentamos aqui no Astropontos algumas vezes, existem algumas técnicas para a deteção de exoplanetas, das quais o método de trânsito planetário e o de velocidade radial são os mais bem sucedidos. Ambas as técnicas tiveram que ser utilizadas no trabalho desenvolvido por Boufleur e seus colaboradores para validar este exoplaneta. Primeiramente, eles obtiveram os dados de trânsito planetário com o satélite espacial, e de participação brasileira, CoRoT (Convection Rotation and planetary Transits) para encontrar possíveis canditados a exoplanetas. Depois eles utilizaram dados de velocidade radial estelar obtidos com o espectrógrafo HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), instalado no telescópio de 3,6 m no Observatório de La Silla, que por sua vez faz parte do Observatório Europeu do Sul (ESO, o qual tem participação brasileira, ou pelo menos deveria ter).
Neste trabalho, Rodrigo Boufleur aperfeiçoou uma técnica de tratamento da curva de luz obtida com o CoRoT para encontrar os três primeiros candidatos a exoplanetas. O satélite CoRoT possui dois modos de operação, um em que ele obtém uma curva de luz monocromática (apenas uma cor) e outra cromática com três diferentes cores, verde, azul e vermelho como mostrado na figura 1. Nesta figura, Boufleur e colaboradores apresentam como cada modo cromático é alocado no campo de visão do CoRoT. O método desenvolvido por Boufleur utiliza os dados obtidos por cada “cor” para criar e refinar uma curva de luz com menor ruído, o que facilita a determinação do trânsito planetário.

A seguir, os autores analisaram os dados do espectrógrafo HARPS e puderam confimar pelo método de velocidade radial que um dos três candidatos é efetivamente um exoplaneta. Os autores também conseguiram determinar algumas propriedades físicas do exoplaneta CoRoT ID 223977153 b: ele tem uma órbita bem distinta da Terra e próxima da sua estrela mãe com apenas 6.7 dias. Ele também tem tamanho similar a Saturno mas metade da sua massa. Infelizmente, pensar em vida neste planeta é um pouco utópico já que a temperatura esperada pode chegar a mais de 1000º C.

Como dizia Carl Sagan, as vezes, o método científico desenvolvido é ainda mais importante que as descobertas com ele conquistado. O que faz muito sentido já que poderá ser empregado a novas amostras e, consequentemente, ligado a novas descobertas. O trabalho desenvolvido por Boufleur e colaboradores não só criou uma nova técnica para facilitar a detecção de exoplanetas através do método de trânsito planetário como também descobriu o primeiro exoplaneta brasileiro. Se casos de corrupção e defasagem de verbas para a ciência brasileira não fizessem, infelizmente, parte do cotidiano brasileiro, poderiamos ter mais de 51 milhões de razões para ser um país referência mundial em ciência e tecnologia.