Em rota de colisão – como asteroides podem ameaçar a vida na Terra

Imagine por um momento que você é um tiranossauro rex, vivendo há cerca de 66 milhões de anos. Você é o predador alfa, com força e inteligência superiores, e domina uma vasta floresta tropical perto do oceano. Enquanto almoça um delicioso saurópode, você olha para o céu e vê uma enorme esfera flamejante aproximando-se da Terra em alta velocidade. Você observa indefeso enquanto ela colide com o planeta. Se você sobrevivesse aos efeitos imediatos do impacto, como o tsunami gigante de 100 metros, a escassez de comida e o inverno global que seguiram certamente seriam seu fim (e de 75% de toda a vida na Terra). Com esse cenário em mente, considere a pergunta: o que impede que um evento apocalíptico como esse aconteça novamente?

Figura 1: Representação artística do impacto que causou a extinção os dinossauros. Créditos: NASA/Donald E. Davis.

Hoje sabemos que eventos destrutivos, como o que causou a extinção os dinossauros, são causados por asteroides e outros objetos celestes colidindo com a Terra. O Laboratório de Propulsão a Jato (Jet Propulsion Laboratory, JPL) da NASA e o Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra (Center for Near Earth Object Studies, CNEOS) definem oficialmente as diferentes categorias de objetos que se aproximam da Terra. Um “Objeto Próximo à Terra“, ou NEO (do inglês Near-Earth Object), é qualquer pequeno corpo celeste cuja aproximação máxima ao Sol seja menor que 1,3 UA. Essa definição é dividida em subcategorias, como cometas próximos à Terra (NEC, Near-Earth Comets), asteroides próximos à Terra (NEA, Near-Earth Asteroids) e asteroides potencialmente perigosos (PHA, Potentially Hazardous Asteroids).

Já escapamos por um triz

Em anos recentes, houve episódios em que escapamos por um triz de objetos próximos à Terra. O meteoro de Chelyabinsk, na Rússia, observado em 2013, é um exemplo notável de um NEO recente. 1500 pessoas tiveram que procurar atendimento médico devido aos efeitos da explosão. Mais tarde, foi identificado que ele se originou de um NEA da classe Apollo (veja Fig. 2). Essa classe de asteroides é a mais abundante em nosso sistema solar e engloba a maior parte dos asteroides potencialmente perigosos.

Figura 2: Diagrama com diferentes classes de asteroides próximos da Terra. Adaptado do CNEOS.

Outro asteroide, o TW1 2019, foi observado três dias antes de passar próximo à Terra em outubro do ano passado. Embora esse objeto tivesse apenas de dez a quinze metros, poderia ter causado uma quantidade considerável de dano se tivesse penetrado a atmosfera do nosso planeta. Estima-se que objetos com esse tamanho possam produzir uma explosão de ar na atmosfera superior com energia cinética equivalente a 82 mil toneladas de TNT, o suficiente para quebrar janelas e causar danos moderados a prédios urbanos.

Avaliação de risco de NEOs

Falando em danos, é importante entender como avaliação de risco funciona com NEOs. Atualmente, existem duas escalas usadas para identificar quão perigosos esses objetos são em termos de potencial de devastação local, regional ou global. As escalas usadas são chamadas de escala de Turim (Figura 3) e escala de Palermo. A escala de Turim é mais qualitativa e é usada para transmitir a gravidade de um evento à mídia e ao público em geral. Essa escala possui designações codificadas por cores que variam de 0 a 10, sendo 10 um evento globalmente catastrófico. Esses valores são baseados na probabilidade de impacto e na energia cinética do objeto. Por outro lado, a escala de Palermo é mais técnica. Essa escala baseia suas classificações no risco médio apresentado por um objeto de um certo tamanho. Ambas escalas ajudam a identificar quais objetos podem precisar ser monitorados com atenção.

Figura 3: diagrama da escala de Turim.

O monitoramento é feito por exemplo com o telescópio espacial Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE) e com o Infrared Telescope Facility localizado no Observatório de Mauna Kea, no Havaí. Comprimentos de onda no infravermelho são ideais para detecção de asteroides e cometas. Como aprendemos no caso do TW1 2019, alguns asteroides são difíceis de detectar devido ao seu tamanho e baixa intensidade da luz visível. Contudo, ao passar próximo ao Sol, esses objetos são aquecidos e emitem radiação infravermelha detectável. Outros telescópios menores em diversos outros países como EUA, Chile, Austrália, África do Sul, Reino Unido, China, Espanha e Israel também contribuem para identificar NEOs. Todos os observatórios relatam descobertas ao Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional (IAU, International Astronomical Union), que classifica e estuda corpos menores no Sistema Solar.

E se um asteroide ameaçar a Terra?

Sabemos como detectar NEOs, mas o que aconteceria se a NASA fosse alertada sobre um asteroide em rota de colisão com a Terra? Grupos de defesa planetária desenvolveram diversas estratégias para lidar com esse cenário. Em uma conferência em 2019 (a PDC Hypothetical Asteroid Impact Scenario), por exemplo, participantes simularam as medidas que deveriam ser tomadas a cada dia, incluindo comunicados de imprensa ao público e cálculos de critérios de deflexão necessários para salvar o planeta.

O principal método de deflexão usado na maioria dos cenários é impacto cinético. Uma espaçonave seria lançada o mais rápido possível e para colidir com o asteroide ameaçador. Esse método será testado em uma situação real sob a missão DART (Double Asteroid Redirection Test) em 2022. Uma espaçonave será usada para tentar alterar a órbita de um sistema binário de asteroides. A espaçonave colidirá com o menor asteroide do sistema, na tentativa de alterar o período orbital do objeto. Esse teste ocorrerá com segurança a 11 milhões de quilômetros da Terra e será monitorado por vários telescópios na Terra.

Figura 4: Diagrama da missão DART. Créditos: NASA/John Hopkins Applied Physics Lab.

Outros métodos de deflexão foram propostos, como detonação de bombas atômicas, velas solares e interação gravitacional com uma espaçonave, mas esses métodos ainda precisam ser testados. Nos próximos anos, provavelmente veremos mais pesquisas nessa área.

Pode-se ver que estamos em uma posição delicada no que diz respeito à prevenção de impactos de NEO. Embora sejamos capazes de detectar diversos objetos e tenhamos estratégias para evitar impacto, basta que um objeto passe despercebido para que uma cidade seja destruída ou mesmo para que a humanidade deixe de existir. Mas, como diria Douglas Adams, não entre em pânico! Atualmente não existem ameaças significativas conhecidas ao nosso planeta, e cientistas estão de olho para garantir que continue assim.


Adaptado de Collision Course – A Discussion About Life Threatening Near-Earth Objects, escrito por Alexander Iamartino.

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