Título: LGBT+ Inclusivity in Physics and Astronomy: A Best Practices Guide, 2nd edition
Autores: Nicole Ackerman, Timothy Atherton, Adrian Avalani, Christine Berven, Tanmoy Laskar, Ansel Neunzert, Diana Parno e Michael Ramsey-Musolf
Instituição do primeiro autor: Agnes Scott College
Status: acesso livre no arXiv
“A ciência avança mais rápido quando cientistas estão livres para aplicar sua inteligência e imaginação para explorar o universo sem limites e sem medo”. Esse seria o cenário ideal, mas na realidade cientistas que se identificam como LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e “+”**) ainda enfrentam barreiras no mundo acadêmico.
**o “+” é utilizado para incluir todas outras identidades sexuais e de gênero
Você pode até pensar que seu departamento/instituição é um ambiente seguro e receptivo quanto à esta questão, mas é importante notar que diferentes grupos enxergam o campus de forma diferente. Um estudo realizado em 2003 mostrou que 90% dos estudantes heterossexuais classificavam o ambiente no campus como inclusivo, enquanto que 74% dos estudantes LGBT+ classificaram o campus como homofóbico.
O que poderia então ser feito para ajudar a mitigar essas barreiras, e trazer igualdade e inclusão para a astronomia? Um guia feita pelo grupo Físicos LGBT+ juntamente com o Comitê para Minorias Sexuais e de Gênero na Astronomia da Sociedade Americana de Astronomia (AAS) lista vários pontos pelos quais podemos começar.
No astropontos de hoje daremos ênfase a alguns desses pontos abordados no guia, que são bastante relevantes para estudantes de graduação e pós-graduação. Entretanto, vale a pena ler o guia completo.
O que pode ser feito na sala de aula?
Seguem abaixos algumas atitudes que tanto os professores quanto os estudantes podem tomar:
- Não tolerar o uso de linguagem ofensiva. Isso é extremamente importante fora da sala de aula também! Mesmo comentários que parecem ser bem intencionados podem ter um impacto prejudicial. Por exemplo, utilizar “isso é tão gay” descrever algo como negativo (dar a impressão de que ser gay é um problema) pode até parecer inofensivo para alguns, mas pode ser um insulto para outros.
- Trabalhar em conjunto para encorajar a participação em sala. Certifique-se de que todos tenham a mesma chance de falar e de compartilhar ideias na sala de aula. Em alguns casos, você pode considerar formar grupos (para projetos em grupos, grupos de estudos, parceria de laboratório, etc) de forma a não excluir estudantes, por exemplo: incluir pessoas LGBT+ em cada grupo.
Se você é um instrutor de um curso, seguem algumas ações que você pode fazer:
- Certificar-se de que políticas não-discriminatórias sejam adotadas no programa do curso.
- Tentar não assumir previamente o pronome de uma pessoa (por exemplo, se referir com “ele(s)/dele(s)”, “ela(s)/dela(s)”, ou outros pronomes). É melhor tentar identificar o pronome que o estudante prefere antes do curso começar (talvez utilizando uma enquete, assim os estudantes não se sentirão pressionados a se assumir publicamente para a classe).
- Faça com que as correções das provas (ou listas de exercício) sejam anônimas, evitando assim viés de gênero (ou raciais)
- Monitore o clima do ambiente durante o curso – faça com que os estudantes possam avaliar o curso, criando enquetes em que possam se identificar anonimamente para dar opiniões sobre ambiente no curso
O que pode ser feito no seu departamento?
Aumente a conscientização. Se sua instituição oferece algum tipo de treinamento sobre diversidade de gênero, considere participar e também incentivar seus colegas a participarem! É também interessante convidar palestrantes LGBT+ para o seu departamento, e ajudá-los a encontrar-se com pessoas ou grupos com quem eles possam ter interesses em comum.
Faça o ambiente de trabalho ser acolhedor para todos. Não apenas é importante fazer com que linguagem ofensiva não seja tolerada, mas também é fundamental tornar o departamento mais inclusivo. Realize eventos sociais que incluam todos, e tente utilizar uma linguagem inclusiva a todos os gêneros.
Seja um defensor. Você pode dar suporte aos colegas LGBT+ pedindo por mudanças pró-LGBT no seu departamento. Algumas coisas que você pode fazer são: solicitar uma representação igualitária de pessoas LGBT+ em cargos de liderança; criar um comitê da diversidade de gênero que possa escutar, criar debates sobre o assunto e também ajudar a tornar o ambiente de trabalho inclusivo.
Outras atitudes que você pode tomar:
- Ajude a criar banheiros de gênero neutro no prédio da sua instituição (como ilustrado na Fig.1)
- Mantenha a interseccionalidade em mente ao interagir com os outros ou pressionar por mudanças (“Interseccionalidade” é o conceito de que muitas identidades podem se cruzar, por exemplo, alguém que é negro e LGBT+ provavelmente pode sofrer mais preconceitos do que alguém que é branco e LGBT+)
Fig. 1: Banheiro para todos os gêneros
Por fim, o mais importante é que você seja aberto a discutir e aprender sobre a diversidade de gênero. Se nós não formos capazes de falar sobre esse assunto, a questão da identidade de gênero não irá evoluir na astronomia.
Foi utilizado como base o texto em inglês: LGBT+ Inclusivity in Astronomy por Mia de los Reyes