Nesta semana temos o primeiro de possivelmente três publicações de autoria de Emily Lakdawalla, a Editora Sênior do blog The Planetary Society. Emily é uma comunicadora e educadora científica admirada internacionalmente. Ela possui um grau de Mestrado em geologia planetária pela Brown University (EUA), e planeja lançar seu primeiro livro em breve neste ano.
O texto original pode ser encontrado aqui.

Apresentações ruins impõem uma barreira na realização de boa ciência. Isso é uma pena, porque ciência é algo legal. Eu costumava reclamar de apresentações ruins em conferências mas percebi que (1) eu não gosto de quem reclama e (2) como comunicadora profissional, eu deveria parar de reclamar e começar a oferecer ajuda para que pessoas se comuniquem melhor. Se você é um cientista interessado em melhorar como apresenta sua ciência, continue lendo.
Se você não tem tempo para ler, posso resumir meu conselho em três palavras:
Respeite seu público.
Cada uma das pessoas no público é uma outra pessoa, como você. O tempo deles é tão valioso quanto o seu. Tente entregá-los uma apresentação que é perfeita para eles, para informá-los em torná-los interessados no seu trabalho, para deixá-los satisfeitos com os 5, 10 ou 50 minutos de seus valiosos tempos lhe ouvindo.
Aqui vão algumas questões para guiá-lo na preparação de uma boa palestra:
- Com quem você está falando?
- O que eles querem aprender?
- Qual é sua história?
- Quanto tempo você tem para falar?
- Quais visualizações vão servir para amplificar sua história?
Vamos responder essas questões uma a uma.
Com quem você está falando?
Pense bastante sobre seu público. Quem são eles, e o que você pode assumir sobre o que eles já sabem sobre o seu tópico? É um público de seus colegas dentro de sua sub-especialidade? É um grupo mais geral de cientistas espaciais? São cientistas e engenheiros? É uma agência de financiamento? Se é um público mais abrangente, eles já sabem bastante sobre ciências espaciais?
Quanto mais abrangente for o público a quem você está falando, mais contexto será necessário. Se você não fornecer às pessoas a informação que eles exigem para lhe entender, é o mesmo que dizer em público que você não liga se eles lhe entendem ou não.
Para uma conferência científica, eu sugiro ter em mente que o público-alvo é familiar com o processo científico, mas cuja sub-especialidade é completamente diferente da sua. Você é um astrônomo? Prepare uma palestra para o geólogo. Um cientista experimental? Prepare a palestra para um cientista teórico.
Bons palestrantes são aqueles que conseguem comunicar algo para todo mundo na sala, não importa quem eles são ou quanto eles já sabem. Para os relativamente desinformados, você tem que pelo menos responder: qual é a questão por trás do seu trabalho, e por que ela é importante? O que você aprendeu, e qual o seu impacto? Ao mesmo tempo, para os bem-informados, você deve transmitir o que o seu trabalho adiciona ou contradiz o que veio antes dele.
Identificar seu público permite identificar quais palavras são jargão e o que não é. Palavras são coisas maravilhosas, e nossas sub-especialidades têm muito vocabulário que é denso em informação. Mas se uma palavra não é familiar para seu público, ela vai obscurecer mais que clarificar. Às vezes é impossível contornar um jargão; talvez seja o foco da sua apresentação. Nesse caso, tome cuidado para definir a palavra mais de uma vez ao longo da sua apresentação, e reforce o aprendizado do jargão com um contexto.
Acrônimos são casos especiais de jargão. É fácil cair em um mau-hábito de usar acrônimos. Eles são comumente os substantivos mais importantes da sua apresentação. Mas, ao contrário de um artigo, no qual você pode voltar a leitura para conferir o significado, não tem jeito de voltar em uma palestra. Eu já atendi várias palestras nas quais um ATL* é definido no primeiro momento — uma definição que eu perdi por causa de uma visita ao banheiro ou um simples momento de desatenção — e fiquei perdida pelo resto da palestra. Seriamente, às vezes não leva mais tempo para pronunciar as palavras do que o acrônimo.
(*ATL = Acrônimo de Três Letras)
O que você quer que sua audiência aprenda?
Eu fico impressionada quando pessoas preparam palestras sem se perguntar isso, mas elas aparentemente o fazem. Muita gente passa um longo tempo descrevendo os métodos — o que eles fizeram, e como os dados parecem. É fácil entender por quê pessoas cometem esse erro: o que você fez, afinal, é o que você passou a maior parte do tempo fazendo. Mas o objetivo da sua pesquisa foi aprender algo que pode ser comunicado para outros. Não há necessidade de forçar a sua audiência a passar pelo mesmo tédio. Você pode salvar a sua audiência todo esse trabalho apenas dizendo o quê você aprendeu.
Aqui vai um exercício que eu recomendo bastante: Escreva um tuíte resumindo sua palestra. Não precisa ter uma gramática perfeita, mas precisa ser algo fácil de ser absorvido. Nesse espaço limitado, você não vai querer perder tempo escrevendo sobre os métodos! “Eu mapeei minerais de argila em Marte” descreve o que você fez, mas não o porquê, ou o quê você aprendeu. “Extensas áreas de Marte sofreram precipitações de chuva durante dezenas de milhares de anos.” Muito melhor!
Faça desse tuíte o seu slide de conclusão. Tenha certeza de que sua palestra leva a esse objetivo. Como fazer isso? Bem…
Qual é sua história?
É impossível não enfatizar a importância de uma narrativa em uma palestra. Você, de pé em frente ao público, contando uma história na qual você é o personagem principal. Histórias são divertidas. Se você contar uma boa história, irá segurar a atenção da audiência e eles lhe seguirão até os confins mais remotos da sua sub-especialidade.
Histórias são também funcionais, especialmente para pessoas na audiência que têm dificuldade em segui-lo na sua jornada. Se, por exemplo, você convencer o público que é um conto sobre crime, então é necessário que todo mundo saiba qual foi o crime desde o começo da história. Então se o público ficar perdido no meio da parte de investigação, você ainda tem uma chance de resgatá-los de volta quando dizer: isso foi a evidência, e esta outra evidência me levou ao criminoso. Mesmo que a audiência não entenda espectroscopia ou entenda o que um modelo de circulação geral é, eles provavelmente entendem como um conto sobre crime funciona.
Talvez você não esteja resolvendo um mistério, mas seja um explorador intrépido que foi a um lugar que ninguém jamais foi. Talvez você tenha lutado uma batalha com dados que mais parecem monstro lendário. (Esta é uma boa base para uma apresentação de resultado nulo; você se torna o herói da tragédia.)
Narrativa não ajuda apenas a audiência; ela lhe ajuda também. Ela providencia uma estrutura para sua palestra, e ajuda a determinar o quê é crucial para transmitir sua mensagem, e o quê não é. Isso é muito importante quando considerar a seguinte questão:
Por quanto tempo falar?
Você não pode dizer as mesmas coisas em uma palestra de quinze minutos que o faria em um colóquio de uma hora. Nem mesmo tente. No entanto, você pode contar a mesma história, motivo pelo qual eu pus “história” antes de “limite de tempo” neste post. Existe algum romance que você gosta e foi transformado em ambos uma minissérie e um filme, e talvez até mesmo um show de uma hora? Pense sobre as diferenças na história de cada um. À medida que vai das produções mais longas até as mais curtas, você vê reduções em personagens, no cenário, na sub-histórias, e finalmente na própria narrativa principal. Mesmo assim a história (normalmente) continua reconhecível. Exatamente o mesmo processo é necessário para ir de um artigo científico a um colóquio a uma palestra longa a uma palestra curta em uma conferência.
É especialmente importante para palestras curtas (menos de 15 minutos) praticar sua palestra e, depois, se estiver muito longa, cortar informações que não são estritamente necessárias para a história. Pense sobre o pobre público, especialmente os descafeinados, aqueles afetados por jet-lag, as várias pessoas na nossa vastamente internacional comunidade que interpretam suas palavras como segunda língua. Você não resolve os problemas simplesmente falando mais rápido. Simplifique a história que quer contar.
Algumas pessoas deliberadamente passam do limite de tempo para tentar resolver o problema de uma palestra muito longa. Não faça isso: é incrivelmente desrespeitoso ao público.
Se você falar além do tempo designado, a mensagem à audiência é: Eu estou aqui para falar com vocês, não para lhes ouvir. Eu não ligo se você entende ou não minha palestra.
Se você invadir o tempo do próximo palestrante, a mensagem é ainda pior: Eu acredito ser mais importante que o próximo palestrante. Eu também acredito ser mais importante que a opinião de toda a audiência sobre a próxima palestra cujo tempo estou usurpando.
Alguns homens em posição sênior parecem levar isso como um jogo, rindo sobre suas batalhas com o chair da sessão. Isso não é engraçado, e pessoas somente riem porque você é sênior e está em posição de poder. O chair da sessão tem que escolher entre parecer um babaca ou rir enquanto ele tenta fazer o palestrante obedecer as regras com as quais ele concordou. Não seja esse babaca.
Somente agora, após ter identificado seu público, sua mensagem final, e o formato da sua história, que você deve começar a pensar sobre fazer os slides da sua apresentação.