Um Amplo Espectro de Problemas

A poluição luminosa está além do que podemos ver – interesses comerciais ameaçam operações científicas e de radioamadorismo.


Se você mora em uma área metropolitana de tamanho razoável, provavelmente já está familiarizado com a poluição luminosa. Mesmo nas noites mais escuras, você nunca verá mais do que meia dúzia de estrelas, e as luzes da cidade são refletidas e fazem o céu noturno brilhar. A astronomia profissional há muito tempo abandonou os subúrbios em troca de observatórios remotos, e a maioria dos residentes urbanos/suburbanos nunca chegou a ver a Via Láctea respingada no céu noturno. Os objetos mais brilhantes que você verá diariamente são o Sol, a Lua e satélites artificiais, os quais, em sua grande maioria, são membros de megaconstelações de satélites.


Figura 1 – Um diagrama da NOIRlab monstra os diferentes níveis de poluição luminosa, a classificação parte de cidades com pouca a cidades com muita poluição.

Como o nome sugere, megaconstelações de satélites são um baita assunto. Fornecendo conectividade à internet em zonas de guerra, fazendo aparições em imagens astronômicas e poluindo de detritos a baixa órbita terrestre, esses conjuntos de milhares de satélites estão, praticamente, em todo lugar. É bem provável que haja pelo menos um satélite pairando sobre sua cabeça neste exato momento! A medida que nosso mundo se torna mais e mais conectado, têm-se a impressão de que eles estão aqui para ficar.

Historicamente, existe um conflito entre astrônomos e operadores de satélites, por conta de suas diferentes preocupações, tais como a poluição luminosa e prevenção de colisões, porém, não é apenas a astronomia óptica que está com problemas evidentes. O trabalho mais recente de pesquisadores do Square Kilometer Array Observatory, demonstrou que satélites Starlink da SpaceX vazaram sinais de rádio para fora de suas frequências pretendidas, contaminando frequências usadas por unidades de Radioastronomia, como a Green Bank Telescope. Essas frequências científicas, comerciais e de comunicação são alocadas por organizações nacionais e internacionais, e visam regular o tráfego de rádio de forma a minimizar interferências. Contudo, interferências não intencionais (como as dos Satélites Starlink) podem invadir e bloquear ou interferir observações astronômicas.

Em defesa da SpaceX, a companhia têm estado em contato próximo com os autores, prometendo atenuar esses problemas, como fizeram à respeito da reflectância ótica dos satélites Starlink, mas pesquisas como essa salientam a urgência do monitorar contaminações similares em frequências protegidas, para que as falhas nos atuais modelos de satélites possam ser consertadas, evitando vazamentos. Seria melhor, obviamente, a previdência por parte dos designers e fabricantes de satélites para garantir, antes de tudo, um funcionamento adequado.

Interferências nas frequências de rádio, não são exclusivamente não-intencionais. A Shortwave Modernization Coalition (SMC), um conjunto de empresas do mercado financeiro, está reivindicando que a Comissão Federal de Comunicações (Federal Communications Commission; FCC) modifique seus regulamentos sobre as frequências de rádio de ondas curtas abaixo de 25MHz. Sob uma licença experimental, essas empresas têm testado a viabilidade de transmissões de rádio de ondas curtas para a realização de suas operações. Agora, a Shortwave Modernization Coalition têm requisitado mudanças permanentes para o uso dessas frequências, permitindo à essas empresas realizarem transações mais rápidas e mais seguras em comparação às conexões por satélite ou cabos intercontinentais de fibra óptica. Infelizmente, as frequências que estão pedindo para serem modificadas são utilizadas por algumas unidades de Radioastronomia (como a LOFAR e a LWA), e são, além disso, muito utilizadas por comunicações de radioamadorismo. Essa é razão pela qual a American Radio Relay League (ARRL), a Associação Nacional de Radioamadorismo dos Estados Unidos, apresentou uma objeção a esta proposta. Um estudo feito pela ARRL sobre a alterações propostas, demonstrou que os radioamadores seriam submetidos à interferências destrutivas significativas por conta das transmissões com fins financeiros, e recomendou que a petição da SMC seja rejeitada. A Comissão Federal de Comunicações ainda não chegou a nenhuma decisão, então teremos que esperar para ver se o uso amador e sem fins lucrativos dessas frequências de radio continuaram a ser protegidos.

Embora o período para o público opinar sobre essa petição já tenha se esgotado, esse episódio (assim como a história do Starlink) deve servir para nos lembrar que sempre podemos lutar por proteções efetivas contra atividades industriais potencialmente destrutivas. Seja usando nossas instalações profissionais para monitorar o céu em busca de satélites falhos, ou nos manifestando quando grupos com interesses comerciais tentam jogar sujo para aumentar o lucro, astrônomos e o público em geral podem fazer a diferença.


Adaptado de Broad Spectrum Problems escrito por Yoni Brand.

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